Pescas

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O sector das pescas da Região Autónoma da Madeira é sobretudo conhecido pela exploração de um recurso pesqueiro de profundidade, o peixe-espada preto (Aphanopus spp), considerado um ex-libris da pesca Madeirense dado o caráter tradicional da sua exploração que remete para os primórdios históricos da colonização do arquipélago constituindo provavelmente a mais antiga exploração mundial de um recurso abissal e a peculiar metodologia de pesca utilizada, um palangre derivante colocado a meia-água na camada entre os 800-1200 metros de profundidade, aproveitando as migrações na coluna de água efetuadas por este peixe.

No contexto das pescas regionais não pode deixar também de ser referida a exploração sazonal de grandes pelágicos migradores (tunídeos), capturados com salto e vara e isco vivo, a pesca de pequenos pelágicos (ruama) com rede de cerco e a apanha litoral de lapas. Este conjunto de peixes e moluscos constituem assim as referências principais da pesca regional que repercutem na tradição gastronómica local.

Figura 1- Pesca da espada e do atum.

Tabela 1 Desembarques (2020) das espécies comercialmente mais importantes

    Desembarques 2020  
Nome vulgar Nome científico Peso (Kg) Valor ()
Peixe espada preto Aphanopus spp 2135517 6389093
Atum Patudo Thunnus obesus 1087964 3252829
Voador Thunnus alalunga 902420 2769644
Gaiado Katsuwonus pelamis 174424 215064
Chicharro Trachurus picturatus 138858 198457
Atum rabil Thunnus thynnus 111110 417324
Lapas Patella spp 100280 593439
Cavala Scomber colias 87662 139691

Recentemente, a Madeira implementou, no âmbito de projetos Comunitários, ações de prospeção e avaliação de recursos de profundidade, não explorados convencionalmente pela frota comercial, que pudessem constituir um complemento e uma oportunidade de desenvolvimento sustentável para a exploração dos recursos haliêuticos na subdivisão Madeira da ZEE Portuguesa.

Das várias espécies estudadas, dois crustáceos mostraram algum potencial, designadamente a gamba-da-Madeira (Plesionika edwardsii) e o caranguejo-da-fundura (Chaceon affinis) (Fig. 2).

Figura 2- Gamba-da-Madeira e caranguejo-da-fundura.

Este camarão pode ser capturado nos mares da Madeira, Açores e Canárias, entre aproximadamente 200 e 350 metros de profundidade. A avaliação efetuada ao potencial pesqueiro deste crustáceo mostrou que, no arquipélago da Madeira, poderia ser obtido um rendimento máximo sustentável capturando uma biomassa da ordem dos 10-20 toneladas anuais.

Apesar da elevada seletividade da metodologia de pesca utilizada, teias de covos flutuantes utilizados habitualmente pela frota Espanhola do Levante na captura desta mesma espécie no Mediterrâneo, as capturas acessórias de outras espécies de crustáceos e peixes poderão contribuir para a rentabilidade económica de uma pescaria comercial dirigida a este recurso. Algumas análises exploratórias de mercado efetuadas mostraram uma grande aceitação deste camarão, pelos consumidores, como produto gourmet com origem local, podendo atingir valores médios em lota da ordem dos 8 €/kg.

O caranguejo-da-fundura é uma espécie capturada a maior profundidade (500-1000 metros) com covos de fundo. Este gerionídeo, dada a sua distribuição em manchas não foi obtida a sua biomassa explorável total, todavia nalguns locais o rendimento de pesca com esta arte atinge valores elevados (> 2 kg/covo).

Ambas as espécies foram analisadas, do ponto de vista nutricional e organolético, sendo pobres em ácidos gordos saturados e ricos em proteínas e ácidos gordos mono e polinsaturados. Várias receitas desenvolvidas por chefs de cozinha, na área Macaronésica, mostraram o enorme potencial destes crustáceos para a preparação de iguarias gastronómicas com elevada qualidade tendo assim potencial para fornecimento de um nicho de mercado com apetência por produtos gourmet.

Informação adicional acerca dos projetos MARISCOMAC e MACAROFOOD podem ser obtidas em consulta aos sites: www.mariscomac.org e www.macarofood.org.

A Região Autónoma da Madeira tem um grande potencial para a piscicultura em mar aberto e para o desenvolvimento desta atividade no âmbito da Economia Azul, que resultam de excelentes condições ambientais e da existência de ordenamento marítimo.

As temperaturas médias da água do mar são estáveis ao longo do ano e significativamente mais elevadas no período de Inverno do que na Europa Continental – sempre acima dos 17 oC. Tal traduz-se num crescimento mais rápido dos peixes de cultura. Por outro lado, a baixa produtividade primária natural do mar, que não permite a cultura de organismos filtradores, tem o benefício de limitar o “fouling”, o conjunto de organismos que se fixam e proliferam sobre as estruturas de cultura, que no caso das redes dificultam a renovação de água para os peixes em cultura e implicam maiores cuidados e custos de manutenção. As estruturas de cultura flutuantes têm um baixo perfil e não apresentam o impacte visual de outras atividades económicas que se realizam na zona costeira (terrestre e marítima), para além das condições de costa aberta, de fortes correntes marítimas e ondulação prevenirem poluição das águas e impactes nos fundos marinhos, com benefícios para o ambiente e para as pisciculturas.