A BIODIVERSIDADE representa a diversidade de vida em todos os ecossistemas existentes, oceânicos ou terrestres, referindo-se não apenas à quantidade de organismos, mas à variedade genética e às suas funções ecológicas.

A biodiversidade marinha no arquipélago da Madeira é um tesouro natural de valor inestimável. Este ecossistema único é crucial para a saúde global dos oceanos e desempenha um papel vital na sustentabilidade da vida na Terra. A diversidade de espécies marinhas nas águas da Madeira é ampla, com uma vasta gama de organismos que desempenham papéis essenciais em processos ecológicos.

A preservação da biodiversidade marinha no arquipélago da Madeira, é fundamental não apenas para o bem-estar das comunidades locais, mas também para a saúde global do nosso planeta. Estes ecossistemas marinhos desempenham um papel fundamental na regulação do clima, na manutenção da qualidade da água e na mitigação de desastres naturais. Portanto, a conservação e proteção destas espécies e dos seus habitats são uma responsabilidade partilhada, e devemos trabalhar em conjunto para garantir que as gerações futuras possam continuar a desfrutar dos inúmeros benefícios que a biodiversidade marinha do arquipélago da Madeira oferece.

Neste segmento de informação sobre biodiversidade integrada no Portal Mar Madeira, procuraremos destacar algumas das espécies com maior relevância para a Região, quer em termos ecológicos quer económicos.

O CHERNE

Polyprion americanus (Bloch & Schneider, 1801)

Características diagnosticantes:

O Polyprion americanus, conhecido como cherne, é um peixe de grande porte, podendo alcançar mais de 2,10 m de comprimento e pesar até 100 kg. Apresenta um corpo robusto e cabeça grande, com uma boca larga equipada com dentes fortes, propícios para a captura de suas presas. A coloração varia do cinzento ao marrom, com manchas mais claras ou escuras espalhadas pelo corpo. As barbatanas são fortes, com a dorsal contendo 10 a 11 espinhos e 10 a 14 raios moles, enquanto a anal possui 3 espinhos e 8 a 10 raios moles. As barbatanas peitorais são amplas, proporcionando boa mobilidade.

Distribuição:

O cherne é encontrado em águas do Atlântico Norte e Sul, desde o Canadá até a Argentina no Atlântico Ocidental, e da Noruega até a África do Sul no Atlântico Oriental. A espécie também habita o Mar Mediterrâneo e o Mar Negro.

Habitat:

Prefere habitats de água profunda, usualmente encontrados em profundidades que variam de 40 a 600 metros, mas pode alcançar até 800 metros. Habita tanto fundos rochosos quanto substratos arenosos, frequentemente próximo a recifes e outras estruturas submersas.

Hábitos alimentares:

Como predador ápice, alimenta-se de uma ampla gama de peixes, cefalópodes e crustáceos, adaptando sua dieta à disponibilidade de presas no ambiente.

Reprodução:

A reprodução do cherne é pouco documentada, mas sabe-se que a espécie possui crescimento lento e longa vida, com maturidade sexual atingida tardiamente. Acredita-se que a desova ocorra em águas profundas, durante o Verão, com ovos e larvas pelágicos.

Caracterização da pescaria:

Devido à sua carne saborosa e textura firme, o cherne é altamente valorizado no mercado, resultando em uma pesca intensiva. É capturado principalmente por longlines e redes de arrasto (noutras paragens que não as águas madeirenses, uma vez que as redes de arrasto são proibidas neste Arquipélago), o que tem levado a preocupações sobre a sustentabilidade da pesca desta espécie.

Na imagem abaixo, evidenciamos alguns dos indicadores principais usados em biologia pesqueira para a boa gestão do recurso.

Sistemática:

Filo: Cordata

Subfilo: Vertebrata

Ramo: Pisces-Gnathostomata

Super-classe: Osteichthyes

Classe: Actinopterygii

Sub-classe: Teleostei

Ordem: Perciformes

Família: Polyprionidae 

Gênero: Polyprion 

Espécie: Polyprion americanus Bloch & Schneider, 1801

.

Referências bibliográficas:

– FROESE, R., & PAULY, D. "FishBase." Publicação eletrônica World Wide Web. www.fishbase.org, versão (04/2023).

– MENEZES, G.M., et al. "The Deep Sea Wreckfish Polyprion americanus Fishery from the Azores." Marine Policy, vol. 33, 2009, pp. 350-358.

– SEDBERRY, G.R., & MUSICK, J.A. "Trophic Ecology of the Wreckfish Polyprion americanus in the North Atlantic." Marine Biology, vol. 104, 1990, pp. 155-164.

– INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE (IUCN). Polyprion americanus. The IUCN Red List of Threatened Species.

O ALFONSIM

Beryx splendens (Lowe, 1834)

Características diagnosticantes:

Beryx splendens, ou Alfonsim, é reconhecido pela sua coloração vermelha intensa, muitas vezes com reflexos prateados. Caracteriza-se por um corpo profundamente ovalado e comprimido lateralmente, uma grande cabeça e olhos proeminentes – adaptações à vida em grandes profundidades. Sua boca é ampla, equipada com dentes pequenos e afiados. As barbatanas são notáveis, com a dorsal longa, dividida em uma parte espinhosa com 10-13 espinhos e uma parte mole com 17-20 raios. A barbatana anal é menor, com 3 espinhos e 7-10 raios moles. As barbatanas peitorais são amplas, facilitando a manobra. A linha lateral é contínua, com escamas maiores e mais evidentes. Geralmente, possui 24-26 vértebras. A coloração predominante é vermelha brilhante, com as barbatanas dorsal e anal às vezes apresentando bordas amarelas.

Distribuição:

O Beryx splendens tem uma distribuição global em águas oceânicas profundas, particularmente em torno de montes submarinos e encostas continentais. Esta espécie é encontrada no Atlântico, Índico e Pacífico, em profundidades que variam de 25 a 1300 metros, mais comumente entre 300 e 500 metros, como observado por Hareide and Garnes (1998).

Habitat:

Prefere águas profundas, especialmente encostas continentais e montes submarinos. Afonso et al. (2013) destacam que é frequentemente encontrado em substratos rochosos ou mistos.

Hábitos alimentares:

A dieta inclui pequenos peixes, lulas e crustáceos. Esta espécie alimenta-se em águas profundas, usando os seus grandes olhos adaptados para detectar presas em condições de baixa luminosidade, conforme descrito por Krug et al.

Reprodução:

A reprodução do Alfonsim acontece entre julho e agosto em águas profundas, sendo os ovos e larvas pelágicos. Características como crescimento lento e longa vida são típicas para a espécie.

Caracterização da pescaria:

Na Madeira não existe uma pescaria directamente dirigida ao alfonsim, embora esta espécie seja comum. É capturada com longlines e linhas de mão juntamente com outras espécies demersais, entre os 50 e 300m de profundidade.

O Beryx splendens é valorizado comercialmente. A espécie é frequentemente capturada como bycatch em pescarias de espécies demersais profundas, conforme reportado por Carvalho et al. (2009).

Na imagem abaixo, evidenciamos alguns dos indicadores principais usados em biologia pesqueira para a boa gestão do recurso.

Sistemática:

Filo Cordata

Subfilo Vertebrata

Ramo Pisces-Gnathostomata

Super-classe Osteichthyes

Série Achoanichthyes

Classe Actinopterygii

Sub-classe Teleostei

Ordem Beryciformes

Família Berycidae

Género Beryx

Espécie Beryx splendens Lowe, 1834

.

Referências bibliográficas:

AFONSO, P., et al. “Fish Assemblages at Deep-sea Hydrothermal Vents and Cold Seeps in the Azores, Mid-Atlantic Ridge.” Fish and Fisheries, vol. 14, no. 4, 2013, pp. 638-659.

CARVALHO, N., et al. “Deep-water Fisheries in Portugal: Recent Trends and Biological Aspects of the Most Caught Species.” Deep Sea Research Part II: Topical Studies in Oceanography, vol. 56, no. 25, 2009, pp. 2444-2458.

FROESE, R. and PAULY, D., Editors. FishBase. World Wide Web electronic publication. www.fishbase.org, version (04/2023).

HAREIDE, N.-R. e GARNES, G. “The Distribution and Catch Rates of Deep Water Fish along the Mid-Atlantic Ridge from 43°N to 61°N.” Fish. Res., 1998.

KRUG, H. et al. “Deep-sea Life of Scotland and Norway.” Deep-Sea Research Part I, 2009.

MOORE, J. A., et al. “Beryciformes: Development and Relationships.” The Tree of Life and Its Evolution, edited by Richard Cloutier, Academic Press, 2017, pp. 393-411.

SANTOS, R. S., et al. “Marine Fishes of the Azores: Annotated Checklist and Bibliography.” Arquivos do DOP, Série Estudos, nº 1/99. Universidade dos Açores, 1999.

SEDBERRY, G. R., and MUSICK, J. A. “Feeding Strategies of Some Demersal Fishes of the Continental Slope and Rise off the Mid-Atlantic Coast of the USA.” Marine Biology, vol. 102, no. 3, 1989, pp. 357-375.

YOUNG, J. W., et al. “The Trophodynamics of Marine Top Predators: Current Knowledge, Recent Advances and Challenges.” Deep Sea Research Part II: Topical Studies in Oceanography, vol. 113, 2015.

O REQUEME

Pontinus kuhlii (Bowdich, 1825)

Características diagnosticantes:

Cabeça grande. Osso pré-orbital com dois espinhos sobre a maxila.Com dentes no palatino. Barbatana dorsal com um pequeno recorte entre as porções espinhosa e mole e com 12 raios duros e 9 a 10 raios moles; 2º e 3º espinhos dorsais maiores que os outros espinhos dorsais.Raios moles da barbatana anal tão longos quanto os raios da dorsal. Origem da anal ao nível do 2º raio mole da dorsal. Barbatanas peitorais em leque. Linha lateral com escamas tubulares. Com 24 vertebras. Com 6 a 8 branquispinhas no arco superior e 9 a 10 no arco inferior (Hureau & Litvinenko 1986). Coloração: vermelha com pequenas manchas amarelas e castanhas ao longo dos flancos. Com um pigmento escuro na base dos espinhos dorsais; cabeça apresenta umas riscas amarelas.

Distribuição:

Esta espécie só é conhecida no Atlântico Este: Açores, Portugal e Mediterrâneo Marrocos até Angola incluindo Madeira, Canárias e Cabo Verde (Hureau & Litivenko 1986, Eschmeyer & Dempster 1990).

Habitat:

É uma espécie bêntica de fundos rochosos entre 100 e 460m de profundidade ou mais (Eschmeyer & Dempster 1990). Na Madeira esta espécie foi encontrada perto de fundos rochosos entre 180 e 360m de profundidade (Nunes 1974).

Hábitos alimentares:

A sua alimentação é constituída essencialmente por pequenos peixes e crustáceos.

Reprodução:

O requeme parece ser um peixe de crescimento lento, com diferenças significativas entre sexos. Os resultados indicam tratar-se de uma espécie onde os machos predominam sobre as fêmeas, que atinge a maturação relativamente tarde e com uma época de desova por ano que se estende de Junho a Outubro.

Caracterização da pescaria:

Na Madeira não existe uma pescaria directamente dirigida ao requeme, embora esta espécie seja comum. É capturada com longlines e linhas de mão juntamente com outras espécies demersais, entre os 50 e 300m de profundidade.

Na imagem abaixo, evidenciamos alguns dos indicadores principais usados em biologia pesqueira para a boa gestão do recurso.

Sistemática:

Filo Cordata

Subfilo Vertebrata

Ramo Pisces-Gnathostomata

Super-classe Osteichthyes

Série Achoanichthyes

Classe Actinopterygii

Sub-classe Teleostei

Ordem Scleroparei

Família Scorpenidae

Género Potinus

Espécie Potinus kuhlii Bowdich, 1825

.

Referências bibliográficas:

ALBUQUERQUE, R.M.1954-56. Peixes de Portugal e ilhas adjacentes. Chaves para a sua determinação. Portugaliae Acta Biologica, Série B, 5:1164 pp.

BLANC, M. & HUREAU, J. C.1973. Scorpaenidae. Pp.579-385 em HUREAU, J.C. & MONOD (Eds.).Clofnam I-Chek-list of the fishes of the North-Eastern Atlantic and of the Mediterranean.Volume I. Unesco,Paris.

COLLETTE,B.B. 1986. Scombridae. Pp. 981-991. in WHITEHEAD, P.J.P.,M.-L. BAUCHOT, J.-C.HUREAU, J.NIELSEN and E. TORTONESE (Eds.). Fishes of the North-eastern Atlantic and the Mediterranean. Volume II. Unesco, Paris.

GONZÁLEZ; J.A.et all-1998-Biology of some macaronesian deep-sea commercial Species-Final report. (Study contract 95/032).DG XIV/CE.

HUREAU,J.C.&LITVIENKO,N.I.. 1986. Scorpaenidae.Pp. 12111229. in WHITEHEAD, P.J.P.,M.-L. BAUCHOT, J.-C.HUREAU, J.NIELSEN and E. TORTONESE (Eds.). Fishes of the North-eastern Atlantic and the Mediterranean. Volume III.Unesco,Paris.

NUNES, A. A.,1974. Peixes da Madeira- Junta Geral do Distrito A. do Funchal-2ª edição.

POSTEL,E.1973. Scombridae. Pp.465-472 em HUREAU, J.C. & MONOD (Eds.).Clofnam I-Chek-list of the fishes of the North-Eastern Atlantic and of the Mediterranean.Volume I. Unesco,Paris.

A CAVALA

Scomber colias Gmelin, 1789

Características diagnosticantes:

Corpo fusiforme. Os dentes são unisseriais, pequenos nas maxilas e ainda mais pequenos no vómer e palatinos, estando ausentes na língua. As escamas são muito pequenas, encontrando-se as maiores na região peitoral. A 1ª barbatana dorsal pequena, quase triangular, apresenta 8-10 espinhos. A 2ª barbatana dorsal tem 13 raios seguidos de 5 pínulas. O espaço entre as duas dorsais é longo, maior que o comprimento da base da 1ª dorsal. A barbatana caudal tem a forma de uma forquilha. Bexiga natatória presente. Coloração: apresenta o dorso verde-escuro amarelado com manchas escuras irregulares que se estendem para baixo da linha lateral. Pode atingir os 60cm de comprimento.

 

Distribuição:

Scomber colias é uma espécie cosmopolita, normalmente habitando as águas quentes do Atlântico, Índico e Pacífico. No Atlântico Este, encontra-se desde as Canárias, Madeira, Açores, costa de Marrocos até ao norte da Baía da Biscaia; é comum no Mediterrâneo.

Habitat:

Epipelágica ou mesodemersal atingindo profundidades de 250-300m. Forma cardumes e é uma espécie migradora. (Collette 1986)

Hábitos alimentares:

É uma espécie muito voraz, constando da sua dieta pequenos exemplares de peixes como sardinhas, carapaus, cefalópodes como lulas e polvos e pequenos crustáceos, entre outros.

Reprodução:

A cavala é uma espécie com indivíduos de sexos separados. As suas gónadas apresentam uma evolução cíclica anual e na Madeira a época de postura começa no fim de inverno até a primavera. Os ovos e as larvas são planctónicos.

Caracterização da pescaria:

Na Madeira, a cavala é capturada principalmente pela frota ruameira (nome vulgar atribuído aos barcos que se dedicam à pesca exclusiva de ruama- pequenos pelágicos como a cavala, o chicharro, a sardinha e a boga), que utiliza como técnica de pesca o cerco. As embarcações, estão equipadas com uma rede de cerco , que pode atingir em média os 500m de comprimento e 120m de altura. A pescaria é realizada durante a noite, sendo o cardume atraído pelo engodo ou isco (mistura de peixe e outros restos triturados) e pelas luzes – candeio. Esta técnica, é muito eficiente para peixes pelágicos e é ainda melhorada com o uso de sondas para detecção de cardumes. As principais zonas de pesca para os pequenos pelágicos situam-se, na costa sul da ilha, entre a Madalena do Mar e Funchal e na costa oeste entre o porto Novo e Machico.

Na imagem abaixo, evidenciamos alguns dos indicadores principais usados em biologia pesqueira para a boa gestão do recurso.

Sistemática:

Filo Cordata

Subfilo Vertebrata

Ramo Pisces-Gnathostomata

Super-classe Osteichthyes

Série Achoanichthyes

Classe Actinopterygii

Sub-classe Teleostei

Ordem Scombriformes

Família Scombridae

Género Scomber

Espécie Scomber colias Gmelin, 1789

Referências bibliográficas:

ALBUQUERQUE, R.M.1954-56. Peixes de Portugal e ilhas adjacentes. Chaves para a sua determinação. Portugaliae Acta Biologica, Série B, 5:1164 pp.

POSTEL,E.1973. Scombridae. Pp.465-472 em HUREAU, J.C. & MONOD (Eds.).Clofnam I-Chek-list of the fishes of the North-Eastern Atlantic and of the Mediterranean.Volume I. Unesco,Paris.

NUNES, A. A.,1974. Peixes da Madeira- Junta Geral do Distrito A. do Funchal-2ª edição.

COLLETTE,B.B. 1986. Scombridae.Pp. 981-991. in WHITEHEAD, P.J.P.,M.-L. BAUCHOT, J.-C.HUREAU, J.NIELSEN and E. TORTONESE (Eds.). Fishes of the North-eastern Atlantic and the Mediterranean. Volume II. Unesco, Paris.

O PEIXE-ESPADA-PRETO

Aphanopus carbo

O peixe-espada-preto, conhecido pela sua aparência peculiar, carne deliciosa e de alta qualidade nutritiva, é um exemplo notável da biodiversidade marinha do arquipélago da Madeira. Prospera nas águas profundas e escuras que rodeiam as ilhas e tornou-se um símbolo da culinária local, com forte presença na oferta gastronómica ao turismo. Os pescadores locais há muito que dependem da colheita sustentável desta espécie, proporcionando-lhes uma fonte vital de rendimento. Além disso, a sua popularidade internacional destaca a importância de preservar e gerir de forma responsável este recurso das profundezas marinhas.

O peixe-espada-preto (Aphanopus carbo Lowe, 1839) é um peixe bentopelágico (família TRICHIURIDAE) de corpo extremamente alongado e comprimido, que vive sobre encostas continentais ou elevações subaquáticas a cerca de 200-1600 m de profundidade (Parin, 1986). Tem uma ampla distribuição geográfica no Atlântico Nordeste, estando presente desde a Islândia (66ºN) (Magnússon e Magnússon, 1995) até às ilhas Canárias (28ºN) (Franquet e Brito, 1995).

A pesca desta espécie na Madeira (pesca da “espada”) remonta ao século XIX, representando, tanto quanto sabemos, a primeira exploração intensiva de um recurso pesqueiro capturado nas regiões mesobatipelágicas.

Na imagem abaixo, evidenciamos alguns dos indicadores principais usados em biologia pesqueira para a boa gestão do recurso.

Aphanopus carbo Lowe, 1839

Sinónimos comuns: Aphanopus microphthalmus Norman, 1939; Aphanopus acus Maul, 1948

Nomes comuns: Peixe espada preto (PT), Black scabbardfish (EN), Sabre noir (FR), Sable negro (ES).

Características diagnosticantes:

Barbatana dorsal: 34-41 raios duros e 52-56 raios moles; Barbatanas anais: 2 raios duros e 43-48 raios moles; Vertebras: 97-100 (Nakamura & Parin, 1993). O corpo é extremamente alongado e comprimido, terminando num pedúnculo caudal fino. Cabeça angulosa, com uma boca grande armada de maxilares fortes, com dentes caninos grandes achatados e ponteagudos, com uns bordos denticulados quando observados à lupa, os quais são muito maiores do que os restantes dentes. Os olhos são muito grandes. O maxilar inferior projecta-se para a frente do superior. Não tem barbatanas pélvicas ou ventrais. A barbatana dorsal tem um recorte mediano a separar a parte espinhosa da mole e estende-se ao longo de todo o dorso. A barbatana anal tem uma base muito mais curta que a dorsal e a sua origem fica para trás da divisão da barbatana dorsal. As barbatanas peitorais são relativamente pequenas e situam-se logo atrás dos opérculos. A barbatana caudal é pequena mas bem desenvolvida, segue o pedúnculo caudal com uns raios bastante frágeis. Entre a barbatana anal e o orifício anal apresenta 2 espinhos, um deles grande, forte, aguçado na ponta e afiado nas faces laterais, provavelmente com funções de defesa e outro logo à frente dele mais pequeno. Pele nua, sem escamas, com um pigmento negro que cai facilmente. Cor preta com tons acobreados quando acabada de pescar que se tornam prateados depois de morta. Linha lateral formada por segmentos pretos bem distintos.

 

Habitat: Espécie bentopelágica de vertentes continentais ou elevações submarinas entre cerca de 200 e 1600 m de profundidade (Parin, 1986).

Distribuição: Possui uma vasta distribuição no Atlântico Nordeste estando presente desde a Islândia (66ºN) (Magnússon & Magnússon, 1995) às ilhas Canárias (28ºN) (Franquet & Brito, 1995).

Alimentação: Cefalópodes, peixes e crustáceos (Parin, 1986).

Reprodução:

Entre Maio de 1998 e Abril de 2000, no âmbito do projecto BASBLACK, foram analisados exemplares de peixe espada preto (Aphanopus carbo) recolhidos em três diferentes regiões do Atlântico Nordeste: a Noroeste da Escócia, em Sesimbra (Portugal continental) e na ilha da Madeira. Este estudo serviu para confirmar observações anteriores, no sentido da desova não ocorrer em Portugal continental nem em regiões do Atlântico Nordeste (e.g., a oeste das ilhas britânicas). Não é ainda claro se esta espécie migra para áreas conhecidas como sendo de desova, como a Madeira e os Açores, ou para outras ainda desconhecidas, como por exemplo a crista médio-atlântica. Os resultados deste projecto confirmaram a época de desova já conhecida para a Madeira, como sendo principalmente o último trimestre do ano (de Outubro a Dezembro)(Santos, 2000).

 

Idade e crescimento:

O espécimen mais pequeno conhecido, 10-15 cm, foi encontrado no estômago de um peixe pelágico, Alepisaurus ferox, off Madeira (Maul,1948). Um estudo disponível sobre a idade e o crescimento do peixe espada preto foi efectuado com otólitos* inteiros de espécimens capturados na Madeira, e apresenta um crescimento relativamente rápido, com idades máximas de 8 anos (Morales-Nin & Sena-Carvalho, 1996). Um estudo preliminares com otólitos seccionados de peixes capturados em águas irlandesas apresentou idades até os 32 anos (Kelly et al., 1998). Não existe informação disponível sobre a taxa de crescimento em outras áreas e não existe uma metodologia estabelecida para a leitura de idade e interpretação. A mais recente publicação sobre este tema (Morales-Nin et al., 2002), realizada no âmbito do projecto BASBLACK, resume o esforço realizado, para inter-calibrar a determinação da idade e estabelecer metodologias comuns de leitura de otólitos.

* Estruturas ósseas localizadas no ouvido interno dos peixes e utilizadas para o estudo da idade e do crescimento dos mesmos.

Sistemática:

Classe: Actinopterygii

Ordem: Perciformes

Família: Trichiuridae

Sub-família: Aphanopodinae

Género: Aphanopus

Espécie: Aphanopus carbo

 

Características da pescaria:

A pesca do peixe espada preto na Madeira data de pelo menos do séc. XIX, representando, tanto quanto se sabe, a primeira exploração intensiva de um recurso de profundidade (Leite, 1988). Mais recentemente (1983), esta pescaria começou a desenvolver-se em Sesimbra (Martins e Ferreira, 1995; Martins et al, 1989, 1994). Actualmente, esta espécie é explorada comercialmente por vários países europeus, nomeadamente Portugal, Reino Unido, França e Irlanda (Anon., 1996).

 

Referências bibliográficas:

ANON., 1996. Report of the Study Group on the Biology and Assessment of Deep-Sea Fisheries Resources, ICES CM 1996/Assess: 8, 145 p.

FRANQUET, F. & A. BRITO. 1995. Especies de Interés Pesquero de Canarias. Las Palmas GC: Gobierno de Canarias. Cosejería de Pesca y Transporte. 59 pp.

LEITE, A. M. 1988. Black Scabbard fish, Aphanopus carbo Lowe, 1839 in Madeira island waters. Fourth world symposium on fishing gear and fishing vessel design. Bulletin sea Fisheries Institute Gdynia 19, 240-243.

HARRISON, C. M. H. 1967. On methods for sampling mesopelagic fishes. Symposium Zoological Society London 19, 71-126.

KELLY, C. J., P. L. CONNOLLY & M. W. CLARKE, 1998. The deep water fisheries of the Rockall trough: some insights gleaned from Irish survey data. ICES CM 1998/O: 40, 22pp.

MAGNÚSSON, J.V. & J. MAGNÚSSON. 1995. The distribution, relative abundance, and biology of the deep-sea fishes of the Icelandic slope and Reykjanes Ridge. In: Deep-Water Fisheries of the North Atlantic Oceanic Slope. Hopper A. G. (Ed.). NATO ASI Series. Serie E: Applied Sciences – Vol. 296. 161-199.

MARTINS, M. R. & C. FERREIRA, 1995. Line fishing for black scabbardfish Aphanopus carbo Lowe, 1839 and other deep water species in the eastern mid Atlantic to the north of Madeira: In Deep water fisheries of the north Atlantic oceanic slope, pp. 323-325. Ed. by A. G. Hopper. Kluwer Academic Publishers, Dordrect, The Netherlands.

MARTINS, M. R., M. M. MARTINS & F. CARDADOR, 1989. Portuguese fishery of black scabbardfish Aphanopus carbo Lowe, 1839 off Sesimbra waters. ICES CM 1989/G: 38, 14 pp.

MARTINS, M. R., M. M. MARTINS & F. CARDADOR, 1994. Evolution of the Portuguese fishery of black scabbardfish Aphanopus carbo Lowe, 1839 during the period 1984-1993. ICES CM 1994/G : 28, 12 pp.

MAUL, G.E. 1948. Quatro peixes novos nos mares da Madeira. Boletim do Museu Municipal do Funchal, 36: 1-23.

MERRETT, N. R. & R. L. HAEDRICH, 1997. Deep-sea demersal fish and fisheries. The Natural History Museum. Chapman & Hall. 282 pp.

MORALES-NIN, B., CANHA, Â., CASAS, M., FIGUEIREDO, I., GORDO, L. S., GORDON, J. D. M., GOUVEIA, E., PIÑEIRO, C. G., REIS, S., REIS, A., SWAN, S.C. 2002. Intercalibration of age readings of deep-water black scabbardfish Aphanopus carbo (Lowe, 1839). ICES Journal Marine Science, 59: 352-364.

MORALES-NIN, B. & D. SENA-CARVALHO, 1996. Age and growth of the black scabbard fish Aphanopus carbo off Madeira. Fisheries Research, 25: 239-251.

NAKAMURA, I. & N. V. PARIN, 1993. FAO species catalogue. Snake mackerels and cutlassfishes of the world (Families Gempylidae and Trichiuridae). An annotated and illustrated catlogue of the snake mackerels, snoeks, escolars, gemfishes, sackfishes, domine, oilfish, cutlassfishes, scabbardfishes, hairtails, and frostfishes known to date. FAO Fisheries Synopsis, 125, Vol. 15, 136 pp.

PARIN, N. V. 1986. Trichiuridae. In: Fiches of the North-east Atlantic and the Mediterranean. Whitehead, P. J., M.-L. Bauchot, J.-C. Hureau, J. Nielsen, E. Tortonese (Eds.). Vol. II. UNESCO, Paris. 977 pp.

SANTOS, A. M. P. (Ed.) 2000. Environment and biology of deep-water species, Aphanopus carbo (Lowe, 1839) in NE Atlantic: basis for its management (BASBLACK). Final Consolidated Report of European Commission DGXIV Study Contract 97/0084: 94 pp.

O PARGO

Pagrus pagrus Linnaeus, 1758

Características diagnosticantes:

Corpo oval moderadamente alto. Perfil dorsal convexo, ligeiramente mais abrupto à frente do olho. Pré-opérculo sem escamas. As mandíbulas apresentam na sua porção posterior grandes dentes caniformes, 4 superiores e 6 inferiores, seguidos de dentes caniformes mais pequenos e obtusos, tornando-se molariformes no terço posterior, as duas filas de dentes exteriores são as mais fortes. Na parte interna à frente dos molares localizam-se inúmeros dentículos granulares. Branquiespinhas curtas, 8 a 10 inferiores e 6 a 8 superiores, com 12 a 17 no 1º arco branquial. Barbatana dorsal com 11-13 espinhos duros e 9-10 espinhos moles. Barbatana anal com 3 espinhos duros e 7-8 espinhos moles. Com 50-56 escamas na linha lateral até à base caudal. Coloração: Cor-de-rosa prateado, cabeça mais escura, barbatana caudal rosa mais escuro, com lóbulos distais brancos e margem central da furca escura. As restantes barbatanas apresentam, cor rosada (Bauchot, 1987). 

Distribuição:

Esta espécie encontra-se localizada nas zonas costeiras com uma larga faixa de distribuição na costa Atlântica Oriental, que vai desde a costa da Noruega até à África do Sul, com predominância no Mediterrâneo (Lythgoe & Lythgoe, 1971). 

Segundo Domanevskyu et al. (1972), esta espécie predomina a profundidades entre os 100 e os 200 metros. O pargo, como quase todas as espécies desta família, não se afasta demasiado da costa, podendo, no entanto, viver em profundidades maiores, muito embora os seus hábitos sejam, como na maioria das espécies litorais, predominantemente bentónicos. Preferem águas temporais e quentes e, normalmente deslocam-se para águas mais profundas durante as épocas de reprodução (Roumillat, 1993).

Habitat:

Esta espécie tem preferência por fundos de natureza arenosa, que se encontrem próximos de regiões ricas em algas (Posidonia) (Bauchot, 1987; Tortonese, 1978).

Hábitos alimentares:

A sua alimentação é preferencialmente feita à base de peixes e crustáceos, podendo incluir outros alimentos como moluscos, cefalópodes e algas (Lythgoe & Lythgoe, 1971; Tortonese, 1978).

Reprodução:

O pargo apresenta hermafroditismo protogénico (ou seja, primeiro são fêmeas passando a machos posteriormente). Não existe indicação de que os machos reinvertam para fêmeas ou para hermafroditas após sofrerem inversão sexual (Manooch & Hunstsman, 1977; Roumillat, 1993). Segundo Manooch (1976) as fêmeas de pargo atingem a maturação sexual a partir dos dois anos de idade, embora a maioria atinja a sua maturação aos três anos. Em termos de ciclo anual de reprodução, o pargo reproduz-se geralmente nos meses de Maio a Junho (Bauchot, 1987). Em locais determinados, como na Carolina Norte, o ciclo de reprodução é de Janeiro a Abril, com uma postura mais intensa no último mês (Manooch, 1976). 

Os ovos e as larvas desta espécie são pelágicos (Lythgoe & Lythgoe, 1971). Os ovos, de cor amarela apresentam uma forma esférica, sem apêndices, medindo à volta de 0.9 mm de diâmetro e contêm uma só gota de óleo, a sua fertilidade está correlacionada com o comprimento, o peso e principalmente a idade do peixe (Manooch, 1976). 

Caracterização da pescaria:

O pargo é capturado no arquipélago madeirense, por uma frota de pesca que se dirige especificamente aos demersais. A pesca demersal abrange mais de espécies de uma ictiofauna de características mais tropicais que temperadas em termos da sua biodiversidade. Não existe uma pesca especificamente dirigida ao pargo, embora a sua captura seja feita só até profundidades de 150 metros, com artes de anzol utilizadas também para as outras espécies demersais, como gorazeira e troll (Fernandes, 1984). Entre estas o pargo Pagrus pagrus é a espécie demersal com maior importância em peso descarregado e em valor económico movimentado.

Sistemática:

Filo Cordata

Subfilo Vertebrata

Ramo Pisces-Gnathostomata

Super-classe Osteichthyes

Série Achnoanichthyes

Classe Actinopterygii (Teleostomi)

Subclasse Teleostei

Ordem Perciformes

Subordem Percoidei

Super Família Percoidae

Família Sparidae

Género Sparus

Espécie Pagrus pagrus Linnaeus, 1758

.

Referências bibliográficas:

FISCHER, W. 1978. FAO Species identification sheets for fishery purposes. Western Central Atlantic (Fishing Area 31). FAO, Rome, Italy.

KRUG, H., S. ESTÁCIO, M.R. PINHO, G.MENEZES, D.CARVALHO, A ALVES, G. FARIA, J. DELGADO, M. AFONSO-DIAS. 2001. Relatório do projecto: Biologia de Espécies Demersais Exploradas nos Açores e na Madeira. PRAXIS/2/2.1/MAR/1694/95.Horta, Açores:113 PP

SERAFIM, M.P.P. & H.M. KRUG. 1995. Age and growth of the red porgy, Pagrus pagrus (Linnaeus, 1758) (Pisces: Sparidae), in Azorean waters. Arquipélago. Life and Marine Sciences 13A: 11-20. Angra do Heroísmo. ISSN 0870-6581.

BAUCHOT, M.L. (1987) Poissons osseux: 1343-1376. En: W. Fischer, M.L. Bauchot et M. Schneider (eds.), Fiches FAO d'identification pour les besoins de la pêche (rev. 1). Méditerranée et mer Noire. Zone de pêche 37. Vol. II. Vertébrés. Publication préparée par la FAO, résultat d’un accord entre la FAO et la Commission des Communautés Européennes (Projet GCP/INT/422/EEC) financée conjointement par ces deux organizations. Rome, FAO.

BAUCHOT, M.L. & J.C. Hureau (1986) Sparidae: 883-907. In: P.J.P. Whitehead, M.L. Bauchot, J.C. Hureau, J. Nielsen and E. Tortonese (eds.), Fishes of the north-eastern Atlantic and the Mediterranean. UNESCO, Paris. vol. 2.

BAUCHOT, M.L. & J.C. Hureau (1990) Sparidae: 790-812. In: J.C. Quéro, J.C. Hureau, C. Karrer, A. Post and L. Saldanha (eds.) Check-list of the fishes of the eastern tropical Atlantic (CLOFETA). JNICT, Lisbon; SEI, Paris; and UNESCO, Paris. Vol. 2.

BAUCHOT, M.L., J.C. Hureau & J.C. Miquel (1981) Sparidae: 12 pp.+fiches. En: W. Fischer, G. Bianchi et W.B. Scott (eds.), Fiches FAO d'identification pour les besoins de la pêche. Atlantique centre-est; zones de pêche 34, 47 (en partie). Canada Fonds de Dépôt. Ottawa, Ministère des Pêcheries et Océans Canada, en accord avec l’Organisation des Nations-Unies pour l’Alimentation et l’Agriculture, Vol. 4.

BELLEMANS, M., A. Sagna, W. Fischer & N. Scialabba (1988) Fiches FAO d’identification des espèces pour les besoins de la pêche. Guide des ressources halieutiques du Sénégal et de la Gambie (espèces marines et d’eaux saumâtres). Rome, FAO: 227 pp. + XVI pl. en couleur.

FRANQUET, F. & A. Brito (1995) Especies de interés pesquero de Canarias. Consejería de Pesca y Transportes. Gobierno de Canarias. Santa Cruz de Tenerife: 143 pp.

FROESE, R. & D. Pauly, Editors (2000) FishBase 2000: concepts, design and data sources. ICLARM, Los Baños, Laguna, Philippines. 344 pp.

GONZÁLEZ, J.F., C.L. Hernández-González, P. Marrero & E.J. Rapp (1994) Peces de Canarias. Guía submarina. Francisco Lemus Editor. Santa Cruz de Tenerife: 224 pp.

LLORIS, D. & J. Rucabado (1998) Guide FAO d’identification des espèces pour les besoins de la pêche. Guide d’identification des ressources marines vivantes du Maroc. Rome, FAO: 263 pp. + XXVIII pl. en couleur.

NELSON, J.S. (1994) Fishes of the World. 3rd edition. John Wiley & Sons, Inc. New York: 600 pp.

PAJUELO, J.M.G. (1997) La pesquería artesanal canaria de especies demersales: análisis y ensayo de dos modelos de evaluación. Tesis doctoral. Facultad de Ciencias del Mar. Universidad de Las Palmas de Gran Canaria: 347 pp.

PAJUELO, J.M.G. & J.M. Lorenzo (1995) Biological parameters reflecting the current state of the exploited pink dentex Dentex gibbosus (Pisces: Sparidae) population off the Canary Islands. S. Afr. J. mar. Sci., 16: 311-319.

REINER, F. (1996) Catálogo dos peixes do Arquipélago de Cabo Verde. Publicações avulsas do IPIMAR Nº. 2: 339 pp. Lisboa.

RICO, V., J.I. Santana & J.A. González (1999) Técnicas de pesca artesanal en la isla de Gran Canaria. Monogr. Inst. Canario Cienc. Mar., 3: 318 pp.

SCHNEIDER, W. (1992) Fiches FAO d’identification des espèces pour les besoins de la pêche. Guide de terrain des ressources marines commerciales du golfe de Guinée préparé et publié avec la collaboration du Bureau Régional de la FAO pour l’Afrique. Rome, FAO: 268 pp. + XVI pl. en couleur.